26 June, 2007

Amor com direito a rato de bigodes negros

«de a história ser inteiramente verdadeira, já que a imaginei de uma ponta à outra

«Caminhavam pelo primeiro passeio que tinha aparecido. Uma nuvem cor-de-rosa descia do alto e aproximava-se deles. [...] E a nuvem envolveu-os. O seu interior estava quente e cheirava a açúcar com canela. [...] Na montra havia uma barriga muito redonda e gordinha montada sobre rodas de borracha. Podia ler-se no anúncio: "A sua nunca chegará a ter rugas, se for passada com o Ferro Eléctrico".»

«-Porque não acendes a luz? - perguntou Alise. - Isto aqui está tão escuro!
- Já é assim há uns tempos - disse Chloé. Há uns tempos. Não há nada a fazer. Experimenta.
[...]
- Os candeeiros morrem - disse Chloé. - E as paredes também se vão retraindo. Esta janela também.
[...]
A grande janela envidraçada, que antes corria ao longo de toda a parede, não ocupava mais do que dois rectângulos oblongos arredondados nas extremidades. [...]
- Como é que isto pode acontecer? - perguntou Alise.
- Não sei... - disse Chloé. - Olha, aí vem um pouco de luz.
O rato de bigodes pretos acabava de entrar com um pequeno fragmento de mosaico do corredor da cozinha, que irradiava um vivo fulgor.
- Mal fica escuro de mais - explicou Chloé -, vem trazer-me um pouco de luz.»

«-Sinto-me bem assim - disse Chloé. - Mantém-te encostado a mim. Há tanto tempo não dormimos juntos!
- Não é preciso - disse Colin.
- Sim, é preciso. Beija-me. Sou ou não tua mulher?
- És - disse Colin -, mas não tens passado bem.
- A culpa não é minha - disse Chloé, e a sua boca tremeu um pouco como se fosse chorar.
Colin inclinou-se e beijou-a muito suavemente, como se beijasse uma flor.
- Outra vez - disse Chloé. - E não apenas na cara... Afinal, já não gostas de mim?
Apertou-a com mais força nos braços. Estava tépida e perfumada. Um frasco de perfume a sair de uma caixa acolchoada a branco.
- Sim - disse Chloé estirando-se. - Outra vez...»


Boris Vian in A Espuma dos Dias.



4 comments:

Joana said...

Beijos...e quem não gosta deles?
Os beijos quando dados com paixão sabem sempre a pouco.
Quando dados com amor nunca chegam.
Obrigada pela visita
Voltarei
Beijocas

serotonina said...

Eu adoro Boris Vian, devoro os seus livros e nunca me canso da sua escrita surrealista! Por falar nisso, esta na hora de reler o Outono em Pequim.

bitter-sweet said...

Joana, um pormenor perfeito.

Serotonina, esse é também o meu próximo.

Anonymous said...

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